O mundo digital está mais presente do que nunca na nossa vida, e a geração Z, os nascidos a partir de 2000, convivem desde cedo com esse ambiente. Sabemos dos muitos benefícios que a tecnologia nos proporciona, mas e sobre os riscos?
Existem muitos aspectos dentro do universo digital, mas hoje quero trazer três pontos importantes, as redes sociais, a depressão e ansiedade e o processo de socialização.
Redes sociais
Uma das ferramentas digitais que mais utilizamos hoje, são as redes sociais. Algo que se tornou característica das redes, embora não seja oficial, é a necessidade de você estar sempre feliz e bonita nas fotos. As pessoas só postam coisas legais, fotos com filtros, buscando sempre passar a imagem da perfeição. Na pesquisa feita por Jean Twenge com os jovens da geração Z, os mesmos relataram como isso é cansativo, se sentem pressionados a sempre estarem bonitos e perfeitos. Cria-se uma cultura de não poder ficar triste, precisamos sempre estar felizes nas redes sociais, mesmo que na vida real estejamos desmoronando.
Além das aparências, as redes sociais mexem muito com a autoestima do jovem. Ser popular costuma ser algo valioso na adolescência e nas redes, isso pode ser medido através de curtidas e comentários em fotos. O quanto uma foto sua ganhou de curtida, pode significar como você está perante aos amigos. E essa percepção pode ser muito prejudicial, porque a ideia de que só sou bom se os outros me aprovarem e depender do outro para ser feliz é muito arriscado.
Outra situação que surge com as redes sociais e também afeta a autoestima, é a comparação. Nas redes todos estão expostos, mostram suas conquistas, sua imagem, seu corpo, e acaba criando um meio de comparação, principalmente para os jovens que estão em formação.
A adolescência por si só, já gera um turbilhão de sentimentos, e juntando com todas essas situações que podem surgir através da internet e uso de redes sociais, a tendência é piorar, aumentando casos de depressão e ansiedade.
Depressão e ansiedade
Algumas pesquisas vêm mostrando que o uso excessivo de telas pode causar mais infelicidade, depressão e ansiedade. Quando as pessoas interagem mais presencialmente com os amigos, sua saúde mental tende a melhorar. Estudos mostram que o facebook por exemplo, pode causar infelicidade, solidão e depressão, porque quando você está diante de uma tela, geralmente está sozinho, mas tendo acesso a vida dos outros, cria a falsa sensação de não estar. Com os feeds infinitos de notícias das redes sociais e o fato de sempre ter algo a mais para ver, pode gerar ansiedade, fazendo que com fiquemos cada vez mais conectados.
A geração Z, segundo a autora do livro e de acordo com os jovens entrevistados, não se preocupam em estar sozinho, não acham isso ruim, ao contrário das gerações anteriores. O problema é até que ponto isso é positivo. Saber ficar sozinho, na sua própria companhia é muito importante, porque não estaremos sempre com o outro, mas, nunca se incomodar e não procurar companhias pode ser ruim, pois precisamos estar em contato com o outro, socializar faz bem para a nossa saúde mental.
Viver só no mundo online, pode ter muitos prejuízos, além de gerar um sentimento de solidão, a internet possibilita algumas situações com a falta de limitação do que pode ou não ser visto, com as redes sociais podem surgir situações de comparação com o outro, cyberbullying, aliciamento, sexting, entre outras.
Um estudo realizado por pesquisadores no Reino Unido, com mais de 10 mil adolescentes na faixa dos 14 anos, mostrou forte indícios de que o uso excessivo de mídias sociais se relaciona com sintomas de depressão. Neste estudo com 5.496 meninas e 5.408 meninos, foi abordado nas entrevistas assuntos como assédio online, baixa autoestima, insatisfação com peso, aparência e qualidade de sono e como tudo isso permeia o uso das mídias sociais, resultando em uma sensação de infelicidade e aumento de sintomas depressivos.
Socialização
Outra característica dessa geração é a perda do interesse em socializar presencialmente. Por serem da geração conectada, tendem a vivenciar muitas experiências através da internet, se relacionando com colegas online, e não saindo como era mais habitual. As interações virtuais estão mais presentes, do que sair e encontrar os amigos, algo que envolve custos e permissão dos pais, algumas “barreiras” que acabam incentivando esse outro modo de socialização.
É possível se socializar online, ter contato, conversar, estamos experimentando isso nesse momento de isolamento social. Mas, nada substitui o contato físico, o estar frente a frente com quem está conversando.
Estar em contato com o outro envolve o treino das nossas habilidades sociais, que é a capacidade de saber se relacionar, se comunicar, expressar sentimento e lidar com as adversidades das relações.
No mundo online, nem sempre você está vendo a outra pessoa, conversando por mensagens como é o mais comum, não é possível ver o rosto do outro, saber se realmente está feliz ou triste e se estão compreendendo certo o que está sendo conversado, pois escrevendo, a interpretação pode ser equivocada.
Presencialmente, temos que realmente estar presente. Se nos dispusermos a sair com os amigos, precisamos participar das conversas, interagir, e estar suscetível a gostar ou não do assunto que surgir. Online não, você pode estar, mas não estar, pode falar a hora que quiser, pode fazer outra coisa ao mesmo tempo, e ninguém está vendo suas reações.
A pessoa que têm um uso excessivo da internet, seja com redes sociais ou vídeo game, pode gerar um déficit nas habilidades sociais, desaprendendo a se comportar diante do outro, sentindo-se insegura.
Um dos motivos para alguém usar abusivamente da internet, vídeo game e interações online, é uma dificuldade para socializar, sentem-se inseguros, com medo de se expor, às vezes por já terem sofrido alguma repressão ou bullying, e ficando atrás de uma tela, onde sentem-se seguros, pois podem desconectar quando quiserem, não precisando enfrentar uma situação adversa ao que esperam e sabem lidar.
Somo seres sociais, precisamos do contato com o outro para viver, a interação ao vivo tem benefícios que só online não acontece.
A autora Jean Twenge brinca que, na próxima década, os jovens vão reconhecer mais facilmente um emoji do que uma expressão facial. Esperamos que não.
Referências:
TWENGE, JEAN. IGen: Por que as crianças superconectadas de hoje estão crescendo menos rebeldes, mais tolerantes, menos felizes e completamente despreparadas para a vida adulta. 1 ed. São Paulo: nVersos, 2018.
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